sábado, 5 de setembro de 2009

Tori Amos: Abnormally Attracted to Sin

O PECADO É BOM E RECOMENDA-SE

"American Doll Posse" (2007), o álbum anterior de Tori Amos era daqueles álbuns que só se se der o apocalipse não fica na história da música. Aliás porque, mais que um álbum onde Myra Ellen se mostrava no pico da sua qualidade enquanto compositora e letrista, fazendo culminar os assuntos que a sua música sempre abordou, "American Doll Posse" era também um grande espectáculo cénico, com personagens entrando e saindo de acordo com as diferentes atmosferas das canções.
Obviamente, um álbum assim deixa sempre muitos caminhos por onde seguir. "Abnormally Attracted to Sin", o novíssimo álbum de Tori Amos, assume esse facto. Assim, parece por vezes que estas canções surgiram ainda na mesma onda criativa que as anteriores.




Em entrevista, a própria Tori Amos fala sobre o processo de criação: todas as canções foram construídas a partir de imagens da digressão de 2007-2008, utilizando ainda as linhas de força das cinco personagens de ADP, ainda que estas aqui surjam mais deluídas. Os próprios videoclips e visuallettes, que circulam pela internet de resto, evidenciam isto.
Relativamente a "Abnormally Attracted to Sin" propriamente, há que dizer que não deita, de forma alguma, as qualidades de "American Doll Posse" a perder. É um digno sucessor.
Mas não só. Se é verdade que canções como "Give" ou "Fire To Your Plain" podiam perfeitamente pertencer ao álbum anterior (Particularmente aos actos de Santa e de Pip respectivamente.), a verdade é que este álbum parece recuperar certas facetas da obra de Tori Amos, que em "American Doll Posse" foram um tanto postas de parte (Em nome de uma inovação mais plena.). Portanto, não é estranho que se reconheça um pouco a sonoridade de "Scarlet´s Walk" (2002) em canções como "5000 Miles" ou "Not Dying Today", onde a noção de movimento é mais que evidente.
Acontece o mesmo com "Maybe California" ou "Ophelia", a lembrar um pouco as canções do tempo de "Under The Pink" (1995) ou mesmo de "Little Earthquakes" (1990); ou alguns delírios de maior acidez como "Strong Black Vine" que trazem de volta as canções desmedidas de "Boys For Pele" (1997).
O caso de "The Beekeeper" (2005) que me parece o mais morno de todos os álbuns da Tori, aparece também em termos de sonoridade, em canções como "Fast Horse" ou "Flavour", ainda que me pareça que as canções que remetem para o álbum de 2005 são melhores do que a maioria dos que compõe o dito álbum.
Os temas são ainda os de sempre: política, anti-religiosidade, feminismo, amor, morte e sexo. Em termos de letras, algumas das que aqui são cantadas poderão ser das melhores que Myra Ellen já produziu, como sejam "That Guy" ou "Give". Canções dessas, certamente ombreiam com toda a facilidade com os bons fantasmas do passado que, já se sabe, sempre são uma responsabilidade.



Se há aqui canções para ficar na memória, e parece-me que definitivamente há, elas serão provavelmente "That Guy", com aquele inesperado travo a cabaret, "Ophelia", "Give", "Fire To Your Plain", "Police Me" e "Fast Horse", e claro, "Curtain Call".
Já vimos que a fasquia não desce, por mais que vá subindo. Assim sendo, volta sempre Tori!





"fast horse"





"fire to your plain"




"curtain call"





"that guy"





"give"





"strong black vine"






"police me"

2 comentários:

Graça Martins disse...

a tua paixão pela Tori Amos está bem de saúde e recomenda-se.
As letras são muito fortes.
O video do nosso amigo que nunca morre está muito bom. Gráficamente é perfeito. As figurinhas em silhueta eram parecidas com alguns momentos dinâmicos do Alive, nas torres.
Só não gosto do estilo de vestido que a tori repete nos vários concertos. Parece um pouco carnavalesco e decadente.
As potencialidades que a voz da tori revela são extraordinárias, sempre.

Supermassive Black-Hole disse...

Realmente, os vestidos são exagerados. Mas ela tem sido teatral desde sempre... Isso acaba por reforçar aquela ideia de "personagem" que interpreta a música...