SAMBA E AMORTeresa Salgueiro era a voz (E que voz!) dos Madredeus. De repente, "Obrigado" mostra-nos uma Teresa não só, uma vez que o álbum reunia algumas das suas melhores colaborações com outros músicos (De Dulce Pontes a Jah Wobble.), mas sem os músicos dos Madredeus. Em "Você e Eu", segundo álbum em que está fora dos Madredeus, mas continua acompanhada, neste caso pelo Septeto de João Cristal, Teresa Salgueiro foge numa direcção nada óbvia que nos deixa boqueabertos: música brasileira. Maria João e Maria de Medeiros fazem-no ao mesmo tempo, mas nenhuma nos deixa a piscar os olhos tanto como Teresa.
Ora, e, comparações são o mais básico vício do ser humano, e, sem ser um mau álbum, este "Você e Eu" é, ao lado de "João" e "A Little More Blue", o pior destes três testemunhos desta vaga de ir ao outro lado do Atlântico buscar canções. E pior precisamente porque, uma vez mais não querendo vir sozinha, Teresa Salgueiro se faz acompanhar por uma banda de músicos... brasileiros.
Aqui reside o problema do segundo álbum da senhora fora dos Madredeus. É uma portuguesa a cantar músicas brasileiras. Mas, em vez de fazer como fizeram Maria de Medeiros e Maria João, e procurar dar uma roupagem nova ás canções, despindo-as do ambiente típico da música tradiconal brasileira, ela surge com uma banda de músicos brasileiros que escreveram para as canções brasileiros arranjos de som muito brasileiro, resultado: soa-nos ao álbum de uma cantora portuguesa a tentar ser brasileira. Má ideia.
Como seria uma má ideia que um brasileiro pegasse na guitarra portuguesa e tentasse cantar o fado como o cantam portugueses de sangue, também é má ideia Teresa Salgueiro tentar "sambar" com a voz.
E vai ser esta mesma voz, sambando ou não sambando, que vai dar a "Você e Eu" a redenção. Porque sobre estes brasileirismos todos, não deixa de ser bizarro ouvir voz tão melódica e agúda. A postura de Teresa é perfeita, dela outra coisa não se espera, e interpreta estas canções com alma, evidenciando a parte pessoal de cada uma.
O alinhamento é interessante, dá destaque a Vinicius de Moraes e António Carlos Jobim, mas há também espaço para Chico Buarque, Ary Barroso ou Dolores Duran. Um alinhamento pessoal, pois claro, e ainda bem.
Pecando por ser um pouco comprido, se nos esquecermos do contexto do álbum, ele é fácil de ouvir sem aborrecer, até pelos diferentes sabores que "Você e Eu" vai assumindo.
Se há destaques, eles têm que ir para "Chovendo na Roseira" de Jobim, "A Banda" de Chico Buarque e "Estrada do Sol" de Dolores Duncan e Jobim.
A direcção de arte do album tem que ser referida, e por ser péssima. Boa foto na capa, estragada pelo excesso de letras (Less is more.), contracapa horrível.
Salva, aqui, pela voz cristalina, não deixa de ser um tiro ligeiramente ao lado para Teresa Salgueiro.
O terceiro álbum, entretanto, já chegou. Com toda a crença que tenho em Teresa Salgueiro, acredito que, com mais alguns álbuns, "Você e Eu" se torne numa referência menor, uma vez que a acredito capaz de bem melhor. Até lá.
Veredicto Final: 15/20