O título do terceiro romance de José Luís Peixoto é "Cemitério de Pianos". Se a experiência da leitura de "Nenhum Olhar" ou "Uma Casa Na Escuridão", os dois romances anteriores do autor, não nos levasse á temática da morte, mais uma vez o título levaria. E isso é importante, porque o assunto da morte percorre cada uma das 314 páginas do romance, ou não fosse a primeira frase do livro
"Quando comecei a ficar doente, soube logo que ia morrer."
Mas não só de morte é feita a história deste livro, ou, se se quiser ser mais preciso, a(s) história(s) deste livro, porque há duas entidades que monologam, que olham e relatam as suas vidas. É assim, como um shampoo, dois em um... Partilham o nome, Francisco Lázaro, e um Francisco Lázaro é pai do outro. Mas é impossível perceber quem é quem. José Luís Peixoto garantiu na apresentação do livro, na Fnac de Sta. Catarina, que não era importante perceber-se qual dos dois fala, e certificou-se de que isso seria impossível, ao passar nomes de uns familiares para os outros, por exemplo: uma Marta é filha do que parece ser o Francisco filho, mas depois é tia do que parece ser o pai... confuso. Não que isto retire qualidade ao livro, pelo contrário, apesar de tornar a leitura muito confusa, torna-a também mais intensa.
Em relação ao enredo propriamente dito, Peixoto partiu da personagem real de Francisco Lázaro, primeira participação portuguesa nos Jogos Olímpicos, em Estocolmo, em 1912. Este curioso personagem morreu devido á brilhante ideia de untar a própria pele com óleos e graxa, o que, em vez de lhe manterem o corpo a uma temperatura amena, só impediram a pele de transpirar e de respirar. Resultado: morreu, após os trinta quilómetros corridos. A maneira como JLP pegou nesta figura e lhe inventou uma vida (E, num dos casos, uma morte.) é fantástica. O único defeito fica no facto de se deixarem algumas pontas soltas (O caso da morte de Maria.), que, ainda que não retirem nada de importante á história, por certo acrescentariam qualquer coisa.
A nível da escrita, o vocabulários é simples, as frases desligam-se umas das outras criando um "efeito poesia" e a história move-se passo por passo, e, ainda que se avancem anos, nada é precipitado: nem revelado antes de tempo, nem revelado tarde demais...
A ler, sem dúvida, mas só se se tiver uma fortíssima crença na máxima que diz
"Quem muito pensa pouco acerta"
porque, se se pensa demais, a questão da divisão dos Franciscos tornará a leitura secante.
Juízo Final: 17/20
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