terça-feira, 23 de janeiro de 2007

morreu Fiama Hasse Pais Brandão


Morreu ontem Fiama Hasse Pais Brandão, não vale a pena dizer a perda que isto representa.
Iniciou o seu percurso com as prosas poéticas de "Em Cada Pedra um Voo Imóvel", 1958, edição de autor, que conquistou o prémio de poesia Adolfo Casas Monteiro. Continuou pela prosa poética em "O Aquário", de 1959. Em 1961, integra o grupo "Poesia 61" com o folheto "Morfismos". A partir daí, publica poesia, de onde se destacam por exemplo "Barcas Novas" (1967), "Melómana" (1979) ou "Âmago 1: Nova Arte" (1985); no domínio da prosa poética acaba por esbater as separações entre a poesia e ficção com "Falar Sobre o Falado" (1988) e "Movimento Perpétuo" (1991); produz abundantemente para teatro, iniciando o seu percurso como dramaturga com "Os Chapéus de Chuva" (1961); e escreveu ainda um único romance, "Sob o Olhar de Medeia" (1998).
Reuniu a sua obra em 1974, "O Texto de Joao Zorro" e em 1990, "Obra Breve".
Foi-lhe atribuído o Prémio APE para poesia por duas vezes, "Epístolas e Memorandos" (1997) e "Cenas Vivas" (2000).
O seu último livro de poesia foi publicado em 2002 pela Quasi, "As Fábulas".
Morreu ontem, aos 69 anos, e lega-nos uma obra que não é breve, nem em quantidade nem em qualidade.


Aqui fica um poema do seu úlltimo livro


URBANIZAÇÃO

Tudo o que vivêramos
Um dia fundiu-se
com o que estava
a ser vivido.
Nao na memória
Mas no puro espaço
Dos cinco sentidos.
Havíamos estado no mundo, raso,
um campo vazio de tojo seco.


Depois alguém
urbanizou o vazio,
e havia casas e habitantes
sobre o tojo. E eu
que estivera sempre presente,
vi a dupla configuração de um campo
ou a sós em silêncio,
ou narrando esse meu ver.

segunda-feira, 1 de janeiro de 2007

Arcade Fire: Funeral

FUNERAIS FELIZES



A vida é mesmo assim, há discos menos felizes e outros mais. O primeiro LP dos canadianos Arcade Fire é um bom exemplo de um disco muito feliz. E este feliz não quer dizer que o som de "Funeral" é sempre alegre, ao longo das dez canções que o constituem, mas sim que a qualidade é omnipresente. O som é rock, um rock caótico, agressivo, enérgico, sobrexaltado, esquizofrénico e acentuado. No entanto, não estamos perante um álbum simples e muito menos minimalista... todas as canções vivem de grandiosos arranjos de cordas, de pequenos pormenores criados com a harpa, o xilofone ou o upright bass. Os Arcade Fire são seis, mas fazem-se acompanhar por mais nove músicos, logo, a nenhum momento do álbum falta complexidade. Como em qualquer álbum, há canções melhores que outras, sem que nenhuma seja má. "Neighborhood #2 (Laïka)" é um excelente representante dos conceitos-base da música dos Arcade Fire, "Neighborhood #3 (Power Out)" idem aspas, "Neighborhood #1 (Tunnels)" (Bonita história de amor.) ou "Wake Up" são indispensáveis, sem dúvida.


No final do disco, o que fica é uma sensação de satisfação que dá vontade de ouvir de novo. De discos assim é feita a música alternativa. A prova disso são as críticas tão positivas a projecção que os Arcade Fire adquiriram desde o lançamento de "Funeral", além de terem dado também visibilidade a músicos que colaboram neste, o exemplo de Owen Pallett aka Final Fantasy, violinista, que publicou em Julho de 2006 o seu segundo álbum de originais, "He Poos Clouds".
O próximo álbum dos Arcade Fire tem de título provisório "Neon Bible", e está a ser gravado numa igreja. Independentemente do resultado, uma coisa os Arcade Fire já têm: uma estreia como poucas, e a oportunidade de, mantendo a fasquia, terem o nome entre os nomes dos grandes. Veremos...


Veredicto-20/20