quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Meditação sobre livros em segunda mão

Há poucos dias consegui um livro daqueles que sempre achei que morreria sem encontrar. O facto é que encontrei, aos 19 anos de idade. E claro que me custou os olhos da cara (Para não usar outras expressões mais cómicas mas também mais "ordinárias".), mas tive uma epifania como há muito não tinha.
Gostava de esclarecer, já que estou numa de desabafos, que não me considero coleccionador. Neste sentido: não persigo edições, ou a edição pela edição. Quando muito, a edição pelo autor, se o apreciar muito. Mesmo que quisesse perseguir a edição pela edição, não tenho dinheiro para isso, e, num raio mínimo de seis anos (Quando terminar o curso.) não estou a ver-me tê-lo, já que nem jogo no Euromilhões e só uma vez, aos seis anos, encontrei dinheiro na rua (E mesmo assim, eram quinhentos escudos, apenas.). Além disso, mesmo passado o curso, nada me diz que tenha dinheiro para ser coleccionador. Por isso, mais vale não acalentar expectativas nesse sentido.
De qualquer forma, passado algum tempo, comecei a pensar qual o motivo que tinha levado uma pessoa qualquer a vender um livro assim. E só me visitaram duas opções: morte ou bancarrota.
E as duas opções significam, acima de tudo, desgraça.
De facto, e era essa a minha meditação essencial, o negócio dos livros (Em segunda mão, evidentemente, não me refiro a livros normais.) vive da desgraça de muita gente. Será a ordem natural das coisas? Possivelmente. Um indivíduo passa a vida inteira a arrecadar livros, até que um dia, ou morre ou fica sem dinheiro, e os livros aparecem a preços entre o moderado e o astronómico, num alfarrabista, até que alguém os compra, para mais tarde regressarem a alguma banca de alfarrabista, porque o segundo comprador também morreu ou também faliu.
Assim, a morte e a bancarrota de uns é a alegria de outros (E por vezes também a bancarrota de outros, como quase era o meu caso, agora.).
Hoje, por exemplo, estava com esse livro na mão, e dei por mim a pensar em quem teria sido o dono dele, antes de mim. A única indicação era uma etiqueta cor-de-laranja de uma livraria em Braga, com número de telefone, número esse que tem quatro dígitos. Interessante.

4 comentários:

Graça Martins disse...

Achei o texto muito interessante mas fiquei sem saber qual a raridade, que como queimadura de euros, foi parar às tuas mãos. Aposto que está tudo curioso para saber!!!Eu nem se fala. Ou será que és tão possessivo, que nem dizes o nome com medo de algum assalto???

Supermassive Black-Hole disse...

Pensei que talvez fosse exibicionista ou gratuito. Mas trata/se do Poesia 61.

Graça Martins disse...

Mas isso é uma raridade!!!!
Poesia 61 - estão lá todos!!
Parabéns. Guarda num cofre...

Supermassive Black-Hole disse...

exacto. estão lá todos, e o casimiro de brito também.