sexta-feira, 4 de julho de 2008

apenas corpos à flor da terra




Deixem que a noite passe sobre os nossos corpos,
gorda de ventos e manchada de estrelas
a perguntar de novo pelos filhos,
a acenar com asas de aviões distantes,
a abrir luzes fantásticas nas ruas,
a dançar nua e negra como os deuses selvagens.



Seremos indiferentes como espelhos,
solenes como árvores antigas, horizontais, sólidos e surdos
aos seus gritos de guerra e às falsas músicas
que nos possa trazer.
Apenas corpos à flor da terra
sabemos de cor as curvas e os tons, um sinal,
uma rosa entre os dedos, uma cicatriz funda,
um pássaro na testa da nossa geografia
humana e comovente.
Apenas corpos à flor da terra
ao sol nos abriremos de mãos dadas.



António Rebordão Navarro
Gustav Klimt, "Morte e Vida"

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