Escreve agora a música
que os muros trauteiam
como eu dilapidei o meu tesouro.
Desenha agora a árvore
que rebentou por dentro.
Mostra agora o coração
com uma flecha no centro.
Vivi de brilho
e cuspi ouro pela boca.
Se ninguém me quis prender
foi porque não dei caça
não dei luta
nem falei em razão de força maior
nem sequer do futuro que me escuta.
Este livro custa a abrir
e aquela porta a fechar.
Desata agora a chorar
mesmo sem querer
mesmo sem sentir.
Chora por tudo
o que não está para vir.
Regina Guimarães
in Cem Poemas Portugueses no Feminino
edições Terramar
imagem: Alberto Péssimo
3 comentários:
gostei deste poema da Regina Guimarães.
Tambem gosto muito. A Regina merecia ser mais divulgada. Mas a cada um as suas escolhas.
Exactamente. O caso da Regina é realmente muito específico. É pena que um meio que se considera estar de braço dado com o progresso, como é o da literatura, ainda necessite de grandes edições para dar ouvidos a alguém.
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