A adaptação de um romance a cinema é, parece-me, sempre de grande dificuldade porque a película será sempre assombrada pelo fantasma do livro, pelo menos para aqueles que o leram.
O caso da adaptação de Luís Filipe Rocha do romance de Jorge de Sena parece-me mais arriscado ainda, por razões de duas naturezas distintas: por um lado, "Sinais de Fogo" foi e é um romance de tremendo impacto sobre os leitores tendo, estranhamente, ficado mais intrinsecamente ligado ao nome de Jorge de Sena do que a maioria da sua poesia; por outro lado, "Sinais de Fogo", mesmo inacabado, é um romance longo e extremamente complexo, consequentemente muito difícil de adaptar a cinema.
Luís Filipe Rocha, no entanto, não foi completamente mal sucedido neste filme.
Não se pode dizer que a adaptação seja irrepreensível: faltam momentos que, a meu ver, tornariam o enredo mais rico, pois mesmo havendo no romance muitos "episódios", seria necessário escolher apenas os essenciais para caber em 101 minutos, mas por essa mesma razão, o filme torna-se um tanto tenso e sem momentos de "descontracção" que, se não mais, pelo menos tornam o filme mais realista.
O papel de Jorge de Sena cabe a Diogo Infante, que efectivamente tem muitas pareceças físicas com Sena quando jovem. Os restantes papéis cabem a actores como Marcantónio Del Carlo, José Airosa ou Rogério Samora que conseguem boas prestações (Com excepção, talvez, da primeira cena na praia, quando estão na barraca a discutir o envolvimento do governo salazarista na Guerra Civil Espanhola.).
As personagens de Henrique Viana e Caroline Berg, os tios de Jorge de Sena, mudam completamente de personalidade relativamente ao romance.
Há, de resto, muitas cenas filmadas de noite, tirando um excelente proveito da luz, do fumo e das cores, e alguns planos utilizados para filmar certas conversas que reforçam o clima de "vigia" e controlo que se vive no tempo do filme.
Referência ainda para a música de Enrique X, realmente muito boa, perfeitamente capaz de reforçar o dramatismo das situações filmadas.
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