Rendidos aos mais íntimos desejos do sangue, os nossos corpos colidem; o teu cheiro mistura-se com o meu cheiro, num só cheiro que depois se instalará no quarto. A perfeição é teres no meu corpo a mais exacta correspondência com o teu. É a fundição da nossa pele que resgata aos deuses a inveja do que nós temos e eles não.
Num último espasmo de prazer, a parede desaba e por trás dela uma luz cose-me na boca um sorriso. Nesse momento, eu sei tudo o que não se pode saber.
Já deitados lado a lado, os lençóis enterram-nos, moribundos. A luz filtrada escreve na cabeceira da cama os nossos nomes acima do nosso ano de nascimento e do nosso ano de morte.
Depois, a simpatia do silêncio permite que se ouça a nossa respiração, prenuncio do renascer que vem provar a existência efectiva do mito da Fénix.
Abraçados um no outro, o silêncio grita em nossa vez. A tua boca que não se move canta-me uma trova já esquecida na Idade Média, cuja linguagem arcaica que não sei falar consigo compreender.
Quanto mais os teus olhos me fixam, mais eu esqueço aquilo que há pouco aprendera. São os teus olhos Hugolino e os meus os filhos que te acompanham na condenação injusta da tua fome.
Logo a seguir é a noite que se aproxima dizendo-me com os olhos que tens que partir.
Das estantes caem todos os livros que se empilham na porta, para nos protegerem. Baltasar e Blimunda, Osvaldo Campos e Maria London Loureiro, o príncipe Nekliudov e Katiucha Maslova, Nastenka, Gregor Samsa, o Psiquiatra, todos eles fogem das respectivas páginas para impedir que a noite te escorrace do quarto a que pertences.
Por alguma razão que a todos escapa, tu sorris. Dos céus caem as estrelas. Ridicularizada pela vulgaridade do seu manto, a noite aninha-se sobre a cidade, e nesse momento conhecemos a ampliação da paz.
Encolhes-te, encostas-te no meu tronco, e os meus braços apertam-te contra mim, certificando-se que não foges. Ficamos para sempre assim, fiéis á convicção da madrugada.
Nessa lealdade, desfalece a noite, criada obediente do Cronos a quem, matreiros, conseguimos escapar.
Lentamente, o sono fecha-nos as pálpebras sobre a vista turva. Em breve chegará a manhã. Podem ter-nos tirado a morte, mas nós ficámos com a luz.
Num último espasmo de prazer, a parede desaba e por trás dela uma luz cose-me na boca um sorriso. Nesse momento, eu sei tudo o que não se pode saber.
Já deitados lado a lado, os lençóis enterram-nos, moribundos. A luz filtrada escreve na cabeceira da cama os nossos nomes acima do nosso ano de nascimento e do nosso ano de morte.
Depois, a simpatia do silêncio permite que se ouça a nossa respiração, prenuncio do renascer que vem provar a existência efectiva do mito da Fénix.
Abraçados um no outro, o silêncio grita em nossa vez. A tua boca que não se move canta-me uma trova já esquecida na Idade Média, cuja linguagem arcaica que não sei falar consigo compreender.
Quanto mais os teus olhos me fixam, mais eu esqueço aquilo que há pouco aprendera. São os teus olhos Hugolino e os meus os filhos que te acompanham na condenação injusta da tua fome.
Logo a seguir é a noite que se aproxima dizendo-me com os olhos que tens que partir.
Das estantes caem todos os livros que se empilham na porta, para nos protegerem. Baltasar e Blimunda, Osvaldo Campos e Maria London Loureiro, o príncipe Nekliudov e Katiucha Maslova, Nastenka, Gregor Samsa, o Psiquiatra, todos eles fogem das respectivas páginas para impedir que a noite te escorrace do quarto a que pertences.
Por alguma razão que a todos escapa, tu sorris. Dos céus caem as estrelas. Ridicularizada pela vulgaridade do seu manto, a noite aninha-se sobre a cidade, e nesse momento conhecemos a ampliação da paz.
Encolhes-te, encostas-te no meu tronco, e os meus braços apertam-te contra mim, certificando-se que não foges. Ficamos para sempre assim, fiéis á convicção da madrugada.
Nessa lealdade, desfalece a noite, criada obediente do Cronos a quem, matreiros, conseguimos escapar.
Lentamente, o sono fecha-nos as pálpebras sobre a vista turva. Em breve chegará a manhã. Podem ter-nos tirado a morte, mas nós ficámos com a luz.
Porto, 28 de Fevereiro de 2008
Imagem: Graça Martins- "A Última Ceia"
2 comentários:
João
A leitura do teu texto foi terrível de tanta beleza. "É lindo de morrer".
Fiquei apaixonada pelas tuas palavras e, por mais uma vez constatar, que a tua alma de POETA vai oferecer-nos mais textos e poemas, quando estamos desprevenidos.
PARABÉNS. É um texto arrebatador.
A ave do fogo foi uma óptima inspiração. É preciso sempre, renascer das cinzas.
Um beijo
não me lembro bem quando escrevi o texto. sei que no outro dia estava a deitar fora uns apontamentos do último teste de Historia de Arte, e lá no meio estava este texto que já tinha escrito há algum tempo. devo ter deixado lá por acidente. ao reler, pareceu-me um bocado borderline. e achei que jogaria bem com este desenho que é tão tenso...
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