sexta-feira, 9 de maio de 2008

A Hero Never Dies de Johnnie To

BORDERLINE CASE

Se houvesse um daqueles inquéritos estúpidos sobre cinema em que a pergunta fosse qual era o filme mais tenso que já vimos na vida, provavelmente, eu responderia que era “A Hero Never Dies” de Johnnie To.
Isto porque de facto, a característica que mais ressalta á vista do espectador é que todo o filme se desenrola numa atmosfera muito borderline, quase demasiado. O conceito de uma situação de fronteira, de uma situação-limite é certamente muito familiar ao cinema, á literatura, e á arte em geral. Mas, neste filme, todas as situações parecem ser de fronteira.
E, se por vezes, isto é uma qualidade, por vezes é um excesso, e logo, um erro.

Mas sejamos específicos: os primeiros e arrastadíssimos momentos do filme, que parecem ser o início da história, são, na realidade, uma contextualização. Vemos pela primeira vez Jack e Martin, dois chefes de dois gangs rivais que defendem importantes homens de negócios, rivais, claro. E se percebemos que estão em sintonia no que toca a competência e a ferocidade, também percebemos que o choque, além de inevitável, será um momento intenso. E é. Quando este derradeiro confronto se dá, num motel, To sabe como fazê-lo em termos de ritmo, de realização, de encenação, de aspecto visual, só não sabe fazê-lo no que toca a tempo. Trocado por miúdos: esta sequência é o verdadeiro início do filme. É um momento de verdadeira e justificada tensão, mas, para início de filme, é demasiado longo, e, em vez de parecer um começo, parece um final.
A história desenrola-se a partir daqui. Há um realce aos papéis das mulheres destes dois homens, que se revelam verdadeiras heroínas, e ainda que tenham caminhos opostos, há o fim em comum.
E este fim há-de ser o impulso para o verdadeiro clímax do filme, que não é, como poderia parecer, a cena do motel.
Há que referir a forma como To retrata os homens de negócios, grandes negócios da China, literalmente, em que vale tudo, de sangue a violência, e, principalmente, a traição. E da traição, vem o passo mais lógico: a vingança por parte de quem é traído.
Espremido tudo, há os dois pólos de qualidade no filme: a parte má passa pelo arrastamento de várias cenas que chegam a ser irrealistas (A cena dos copos de vinho, ou no motel, onde todas as pessoas são baleadas no mesmo lugar- abaixo do ombro.); e por outro lado, a parte boa que passa pela humanidade e pela força emotiva tremenda que To consegue colocar nos personagens, muito também pelo excelente desempenho dos actores e das actrizes.
Antes de terminar, gostava de dizer que acho uma excelente ideia a reabertura do Cinema da Trindade, ainda por cima para passar filmes do Indie Lisboa. Só lamento que seja apenas por oito dias. É uma pena que não se utilizem aquelas duas salas para passar bons filmes o ano todo.

Veredicto: 17/20

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