segunda-feira, 3 de agosto de 2009
A Rua
Na rua larga passeiam mulheres que arrastam pelo chão
o último vison e a última visão
Casas fantasmas de tectos ideais emergem da noite em nevoeiro
vermelhas azuis verdes amarelas saídas de um tinteiro
Duas crianças brincam no passeio
duas crianças sós e sem asseio mas com passeio exclusivo
reservado para elas
Ratos e gatos jogam ao polícia e ladrão
e um cão de guarda fuma o cachimbo da paz qu segura na mão
Há sinfonias demasiado completas a dançar no ar
(nuar: verbo irregular; eu nuo, tu nuas, ele nua= nudismo geral)
e por toda a parte cavalgam os cavalos de Chagall
transpondo o arco-íris de todo o pensamento
que é realmente mento
porque só pensa é fácil
o difícil é o verdadeiro pensa-mento
No restaurante há omelettes em chamas
servidas por bombeiros voluntários
e as banheiras estão cheias de afogados mentais
A lápide de inscrição no cemitério diz apenas
a vida não deu pra mais.
Yvette K. Centeno
Opus 1, edições Ática, 1961
imagem: Raoul Hausmann
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