Pequena referência ao último livro que Fiama Hasse Pais Brandão publicou, em 2002, na Quasi, "As Fábulas".
Segundo explica Gastão Cruz trata-se de um capítulo de "Cenas Vivas" de 2000, que a autora decidiu excluir, para publicação separada. Ela lá veio, em 2002.
A obra de Fiama começa por ter uma fortíssima vertente musical/ritmica, que a própria assume numa plaquette restrita, "Melómana" (Inova, 1979). Daí, evolui para um estilo em que a imagem se torna o essencial e a linguagem se adensa drasticamente, o que se vê em livros como "Âmago I: Nova Arte" (Limiar, 1985) ou ainda nos "Cantos do Canto" (Relógio d´Água, 1995).
"As Fábulas" é um livro que, a meu ver, se destaca dos anteriores por conseguir a mesma potência imagética através de uma linguagem muito mais simples e clara. Os poemas tornam-se mais curtos, menos detalhados, e a imagem surge-nos com uma nitidez surpreendente. Leia-se "Urbanização" ou "Lisboa Sob Névoa" para o confirmar.
Uma análise da "Obra Breve" que a Assírio e Alvim repôs em 2007, agrupando a totalidade da obra em verso de Fiama, permite ver, no entanto, que esta depuração não é novidade no último livro publicado, ainda que este a apresente totalmente maturada. Esta simplificação das palavras não implica um renegar da obra anterior, antes um distanciamento que o amadurecimento da escrita pode explicar. É preciso não esquecer que estamos perante uma autora que nunca vacilou no seu conceito de poesia, tendo mesmo empinado brutalmente o nariz aos ataques com que Joaquim Manuel Magalhães e João Miguel Fernandes Jorge se impuseram nos anos 70, publicando "Área Branca", um dos mais importantes livros de Fiama, e também um dos que melhor mostrou que os conceitos do Poesia 61 tinham inúmeras possibilidades de crescimento.
No conjunto de "Três Livros", "Poemas Galaicos" ou "Eremitério" já nos mostram esta "limpeza" que, mesmo assim, ainda mantinha um cordão umbilical com as tramas de palavras da obra que inicia em "Morfismos" (Poesia 61).
De qualquer forma, "As Fábulas" aparenta ser o culminar de uma obra toda ela complexa e construída, que, com o seu evoluir, se torna mais e mais focada. Não arrisco dizer que este seja o melhor livro da autora de "Em Cada Pedra Um Voo Imóvel". Mas que está entre as melhores, isso está.
2 comentários:
Os (-2) são os atiradores de serviço. Sempre actuaram a cortar cabeças e continuam. Grave é terem seguidores ou pseudo-escravos.
Podem-se pintar de ouro se lhes apetecer... a verdade é que o que é bom subsiste, e a "obra breve" da Fiama continua aí, para mostrar que nunca precisou dos (-2) para ser o que é: uma obra de referência obrigatória. e o resto são cantigas... de escárnio e maldizer
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