domingo, 19 de abril de 2009

um poema


Hoje vejo o sol duma maneira nova.
Puseram um grande papel azul-escuro salpicado de orificios à frente duma grande lâmpada. A luz espirra pelos buracos em jactos aguçados.
E, depois, na parte de baixo, recortaram o papel do feitio de casas, de árvores, de montes. Como a lâmpada está muito alta, as casas, as árvores e os montes ficaram negros.
Lembrei-me, outra vez, dos cartões que eu recortava na escola. Às vezes fazia quadros de papel de lustro, e o céu era sempre uma tira azul-escura que eu colava por cima das árvores, das casas e dos montes.
Hoje o céu é muito simples.



FIAMA HASSE PAIS BRANDÃO
"Em Cada Pedra Um Voo Imóvel", 1958
edição de autor
imagem: RENÉE MAGRITTE

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