Há em toda a poesia uma contradição essencial. A poesia é a multiplicidade triturada e incendiada. E a poesia, que estabelece a ordem, suscita primeiro a desordem, a desordem dos aspectos incendiados; provoca o choque dos aspectos que leva a um ponto único: fogo, gesto, sangue, grito.
Trazer a poesia e a ordem a um mundo cuja simples existência já é um desafio à ordem, é levar à guerra e à permanência da guerra, é fundar um estado de crueldade incidida, é suscitar uma anarquia sem nome, a anarquia das coisas e dos aspectos que acordem antes de soçobrarem de novo e se fundirem na unidade.
ANTONIN ARTAUD
"Heliogabalo ou O Anarquista Coroado"
trad. Mário Cesariny de Vasconcelos
Assírio e Alvim, 1982
imagem: MAX ERNST
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