sábado, 28 de fevereiro de 2009

o poema/ a fotografia



fingir que está tudo bem: o corpo rasgado e vestido
com roupa passada a ferro, rastos de chamas dentro
do corpo, gritos desesperados sob as conversas: fingir
que está tudo bem: olhas-me e só tu sabes: na rua onde
os nossos olhares se encontram é noite: as pessoas
não imaginam: são tão ridículas as pessoas, tão
desprezíveis: as pessoas falam e não imaginam: nós
olhamo-nos: fingir que está tudo bem: o sangue a ferver
sob a pele igual aos dias antes de tudo, tempestades de
medo nos lábios a sorrir: será que vou morrer? pergunto
dentro de mim: será que vou morrer?, olhas-me e só tu sabes:
ferros em brasa, fogo, silêncio e chuva que não se pode dizer:
amor e morte: fingir que está tudo bem: ter de sorrir: um
oceano que nos queima, um incêndio que nos afoga.





José Luís Peixoto
no primeiro número da revista "Apeadeiro", quasi, 2001
fotografia: Frederik Froument

afinal apetece-me olhar para isto eternamente

ainda não me apetece fazer nada
apetece-me não fazer nada

post by request

pediram-me umas amigas que avisasse o pessoal que aqui vem por vezes que gosto muito de J&B com Coca-Cola. E de Vodka de mentol.

também me pediram para dizer que o chão onde dormi é duro.

e finalmente que é bom estar sentado

bruno aleixo: os conselhos que ele nos deixa










os conselhos que me deixam

neste caso, a minha amiga Guida, que, numa fase de maior desorientação (=ontem à noite.) me sugeriu que fizesse uma lista das coisas que gosto e que não gosto na minha vida, a ver se me oriento. Há um ano atrás, eu não acreditava em psiquiatria, em psicanálise nem em psicologia. Depois comecei a acreditar. Reconheço que há "tratamentos" que uma pessoa deve fazer. A Guida está em Psicologia, e o conselho não foi mau. Fiz essa lista, que fica aí em baixo, e já sei o que tenho para resolver nos próximos tempos. O problema é que "próximos tempos" parece-me ser sinónimo de "próximas vidas". Só que eu não sou um gato.

Gosto dos meus cigarros. Gosto de os fumar no café. Gosto mais ainda de os fumar deitado em cima da minha cama. Gosto mais ainda de os fumar deitado em cima da minha cama nu.

Gosto de passear pelo Porto. Gosto mais se estiver nevoeiro. Gosto ainda mais se estiver em ruas que não conheço ou não conheço bem. Perfeito é se estiver nevoeiro e estiver em ruas que não conheço ou não conheço bem. Gosto de ir a reparar nas fachadas das casas, e sonhar que um dia vou reabilitá-las a todas. Gosto de ir a apreciar as pessoas que passam.

Gosto da Rua do Relógio. Vou para lá à noite quando preciso de pensar. Passa sempre alguém que pensa que eu estou a preparar-me para me atirar do viaduto abaixo. Mas não me ocorreu até agora. Gosto de ficar a ver os carros lá em baixo. Gosto mais se estiver a ouvir "January (Black Dove)" da Tori Amos.

Gosto de festivais. Também gosto de concertos normais. Mas gosto mais de festivais, de andar aos encontrões, de me desviar dos palermas, de me desviar de quinhentas cervejas que caem ao chão, e do cheiro a ganza pelo ar. Não gosto muito de cerveja. Só bebo porque é barato.

Mas gosto de Baileys. Também gosto de Vodka Preta. E também gosto de Absinto.

Gosto de escrever em bares, com música alta e muito basqueiro. Também gosto de escrever em cafés. Também gosto de escrever nas aulas teóricas.

Também gosto de ruas decadentes. São bonitas. Gosto de me sentar nos cafés rascas dessas ruas a esboçar mapas dos esquemas das ruas.

Gosto de ver a cidade a amanhecer. Não gosto que para isso tenha que passar a noite em claro. Mas gosto de sair de casa quando a aurora começa. E gosto de me sentar no café a olhar lá para fora enquanto as ruas se enchem e o café também.

Gosto de ir a Lisboa uns dias de vez em quando. Gosto dum café qualquer que há na Gare do Oriente. Também gosto de andar de comboio.

Gosto de dormir. Principalmente se não tiver nenhuma hora a que seja obrigado a levantar-me. Sabe-me melhor acordar às nove para ir até ao café ou dar uma volta do que acordar às onze sabendo que às duas tenho que estar na Faculdade.

Gosto de andar pelos alfarrabistas, a fazer quinhentas perguntas. Gosto principalmente quando sei mais que eles e consigo livros que valem 50 euros por 5, por exemplo.

Gosto de ficar a olhar para a estante dos meus livros. E tenho um grande prazer masoquista em perceber que a minha casa já começa a ficar sem espaço para eles.

Gosto do barulho dos carros enquanto tento adormecer. Não gosto do som dos bêbados. Quando estou bêbado tento ser um bêbado silencioso.

Gosto de apreciar um bom escândalo. Se não tiver nada que ver comigo.

Não gosto que parem para falar comigo quando eu estou obviamente com pressa. Mesmo que não me vejam há muito tempo.

Não gosto de dinheiro. Gosto de o ter. Mas irrita-me a dependência que temos dele.

Não gosto que me culpem de coisas que eu não tenho culpa. Também não gosto que me berrem. Principalmente, não gosto disto: berram-me, depois eu berro mais alto e dizem-me aos berros que não berre.

Não gosto nada de ficar ressacado. Acho que não há nada pior.

Não gosto da Lili Caneças. Às vezes cruzo-me com a figura dela no televisor, e quase vomito. Também não gosto do Vasco Pulido Valente.

Não gosto que me sorriem enquanto são desagradáveis. No espaço de três anos tive três profs assim e sempre tive desejos de os alvejar.

Não gosto de acusações. Principalmente as injustas.

Não gosto do preço do café no café onde tomo café. Também não gosto do facto de ser o único com sala de fumadores nas redondezas.

Não gosto que me tratem por você. Também não gosto do meu nome. Também não gosto muito que me tratem, sequer.

Não gosto que digam que eu sou sociopata ou anti-social porque acho que isso não é verdade. Ou pelo menos muito verdade.

Não gosto (Não suporto.) que façam de mim parvo. Por norma são mais parvos que eu e eu percebo o que estão a fazer e apetece-me arrancar-lhes os olhos.

Não gosto que me mexam muito. Consigo manter uma conversa sem ter que me abraçar ou tentar arrancar um braço à pessoa que está a falar comigo. Algumas pessoas não faz mal, mas por norma não gosto.

Não gosto que não gostem que em chame "Minha querida" às minhas amigas ou "Meu caro" aos meus amigos, por pensarem que estou a ser cínico. Não sou muito cínico. A maior parte dos dias. Gosto de me considerar mais sarcástico do que cínico.

Não gosto do nosso bispo que falou no outro dia dos casamentos gays e inter-religiosos. Também não gostei que ele falasse "axim".

Não gosto de pessoas conservadoras. Também não gosto de pessoas religiosas. Também não gosto de pessoas que me pedem que não fume à beira delas. Também não gosto de pessoas que encaram as minhas tentativas de ser simpático com um engate. Também não gosto das pessoas que julgam que eu sou transparente. Quem também não suporto são aquelas pessoas que me atribuem características delas mesmas. Também não gosto que me digam que não me posso ir abaixo e que não devo pensar no que me magoa- Gosto que respeitem os meus lutos se eu tiver que os fazer.

Não gosto de ás vezes no café estarem a ver o "Você na TV". Porque não gosto do Goucha nem do riso estúpido da Cristina Ferreira.

Não gosto de até estar a gostar de Ugly Betty. Principalmente acho que não devia gostar tanto da Wilhemina e do Marc.

Não gosto que me peçam para mentir, porque quando minto, até eu sinto o tom de insegurança na minha voz.

Não gosto de às vezes ter que mentir. Principalmente porque minto muito mal.

Também não aprecio a verdade, a maior parte das vezes. Mas reconheço que pode ser útil sabê-la.

Não gosto que as pessoas discutam alto no café. Gosto menos ainda se eu estiver envolvido na discussão. E gosto ainda menos se fôr eu a discutir alto e só perceber isso meia hora depois de ter começado.

Não suporto que confundam o meu silêncio com tristeza.

Não gosto de padres. Também não gosto de freiras. Nem de freiras laicas. Nem do Daniel Faria. Odeio beatas.

Não gosto que as pessoas me digam que confiaram em mim logo a primeira vez que falaram comigo. Gosto ainda menos que isso seja verdade. E gosto ainda menos que o provem contando-me detalhadamente pormenores da sua vida. Gosto menos ainda que me perguntem se estão a ser chatos quando o fazem.

Não gosto que me atirem com perguntas pessoais num lugar cheio de gente.

Não gosto que me digam que estou a tomar uma decisão que não quero tomar, quando eu digo o oposto.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

hoje

comi duas Amélias por 60 cêntimos cada uma. Para a próxima comerei uma Glória a 70.

Agustina Bessa Luís: O Mistério da Légua da Póvoa

DA LOUCURA (E) DO DESEJO

Não será por acaso que um dos títulos mais importantes e de maior qualidade da escritora portuense Agustina Bessa-Luís é “A Sibila”. De facto, no contexto da História, as sibilas eram adivinhas que sibilavam o destino das pessoas. É um pouco isso que Agustina faz nos seus romances, não propriamente adivinhando, mas traçando, a vida dos seus personagens e certamente não sibilando, mas falando dele com toda a objectividade e “frieza”.
“O Mistério da Légua da Póvoa”, ainda que seja um romance, foi publicado como folhetim, capítulo a capítulo n´”O Independente” entre 2001 e 2002, sendo publicado posteriormente em livro em 2004. Assim, assume-se como folhetim, mas não perde nenhuma característica das habituais nos romances de Agustina, sendo o único problema o facto de por vezes redundar demasiado nalguns episódios da história, o que se compreende, visto ser necessário manter o público a par da história, relembrando factos que podem, por vezes, ser esquecidos.
Parece-me que o romance, enquanto estilo de escrita, exige ao seu autor que seja absolutamente fotográfico e absolutamente cru naquilo que escreve, cingindo-se a narrar a história, de uma forma o mais precisa possível. Partindo deste princípio, na minha opinião, entre os escritores portugueses vivos, apenas dois são romancistas puros, e serão Agustina Bessa-Luís e José Saramago, ainda que tenham estilos absolutamente distintos. Não estou com isto a criticar os restantes, porque me parece que se este estilo mais fotográfico é exigente, pode por vezes resultar demasiado inexpressivo, se o autor não souber evitar isso, como o sabem Agustina e Saramago. Nos restantes romancistas, nota-se uma influência de outros estilos, como, por exemplo, a poesia, o que evita precisamente o perigo de se escrever uma narrativa demasiado objectiva.

Agustina será a mais bem-sucedida descendente de uma forma de escrever muito própria dos escritores realistas, e o caso de Eça de Queiroz vem inevitavelmente à baila no que a isto toca.

Concrectamente, “O Mistério da Légua da Póvoa” é uma história que terá surgido à sua narradora por sugestão do seu amigo Freirão das Forças, a propósito de uma conversa sobre folhetins, em particular “O Mistério da Estrada de Sintra” de Eça de Queiroz e Ramalho Ortigão.
Trata-se da história de Maria Adelaide Coelho, filha de uma importante família de Lisboa, que inclui o pai, Eduardo Coelho, fundador do Diário de Notícias.
Ao aperceber-se de que está a envelhecer, graças a um poema cómico que o marilho lhe dedica, Maria Adelaide é atacada por aquilo que três grandes alienistas definem como “loucura lúcida”, e decide fugir com o seu motorista para a Serra das Gralheira, e levar uma vida de pobre, ignorando a fortuna de que é detentora.
O marido é que não se fica, e acaba por perseguir a evadida mulher, internando-a no Hospital do Conde de Ferreira, de onde esta consegue escapar-se duas vezes.
Não querendo revelar demasiado da história, parece-me ser esta uma típica prosa agustiniana, onde a acutilância da voz narradora é elemento essencial para uma compreensão da narrativa, estando esta situada numa família burguesa a debater-se com os problemas do seu tempo e com os seus próprios problemas.

Além disto, Agustina consegue também penetrar a fundo as questões psiquiátricas que a história implica, reforçando a sua controvérsia através de referências a documentos da época, reconstituida com o rigor que Agustina não dispensa nunca.
É portanto mais uma história da sibila, a ler como forma de compreensão do mundo em que vivemos e de quem, além de nós, mas incluindo nós, o constitui.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

isto está

sériamente bem feito. É antigo, está certo, mas continua a ter piada. A música é de Christina Aguilera, descobri hoje

Os Tempos Não



Os tempos não vão bons para nós, os mortos.
Fala-se demais nestes tempos (inclusivé cala-se).
As palavras esmagam-se entre o silêncio
que as cerca e o silêncio que transportam.

É pelo hálito que te conheço no entanto
o mesmo escultor modelou os teus ouvidos
e a minha voz, agora silenciosa porque nestes tempos
fala-se demais são tempos de poucas palavras-

Falo contigo demais assim me calo e porque
te pertence esta gramática assim te falta
e eis por que todos temos a perder e por que é
cada vez mais pesada a paz dos cemitérios.

MANUEL ANTÓNIO PINA,
"ainda não é o fim nem o princípio do mundo
calma
é apenas um pouco tarde", 1982

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

go away

go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
i´m somewhere between hell and hell and my mouth is eating the floor and my fingers rip my eyes off so I won´t notice and below the surface of my skin my body is starting to die and I´m losing the sounds too, that humming that seemed like your voice is no longer twisting me and i still know i´ve lost something i didn´t have
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
in the silence above, everything is boring and the air I still have to breathe makes me bleed and I wish I´d die soon, i don´t feel like waiting. I left you suck my life and I was left with nothing
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
I fuckin hate sunshine and I hate when the light hits my face, and mostly I hate to have you by my side, with a smile faking your face while you stab me and no one even sees. And I fuckin hate the soud of children, and I hate when they jump in front of me, like you jump, thanks to me mother fucker
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away

go away

go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away
go away

terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

o poema



Morreu com o dia
o sol fiel que nos aquecia
e veio outro sol
depredador

Também ele nos deixou
em cena, sós
extintos actores

E veio outro sol
desfigurado
e outro dia sem cheiro e sem sabor

A fulgurância do supremo actor
um fio de voz a repercute
no coração de quem lhe escute
anterior às réplicas o tremor.






de "A Lume", Assírio e Alvim, 1989

LUIZA NETO JORGE
10.5.1939- 23.2.1989

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

as nódoas

Nos últimos tempos, tenho voltado ocasionalmente à televisão. Gosto principalmente de séries, algumas (Por exemplo, já mal me lembrava de “Once and Again” a repetir na FoxLife, e até achei piada a “Valentine”.)
Mas uma vez ou outra, lá tropeço em coisas menos desagradáveis.
Este desabafo fala de duas delas.

A primeira é na televisão nacional: uma vez mais, a TVI revela o seu gostinho mórbido pela desgraça, e, às sextas feiras, Manuela Moura Guedes presenteia-nos com a desgradável presença de Vasco Pulido Valente no telejornal das oito.
Sou sincero, tenho algumas dificuldades em ouvir gajos que nunca fizeram a pontíssima de um corno mas que, por alguma razão têm sempre palco para vir criticar o que os outros fazem. A questão é que VPV teve a sua oportunidade de passar à prática as ideias da sua mui iluminada mente quando esteve na Assembleia, eleito pelo PSD, mas a verdade é que a sua passagem fez lembrar o Ribeiro, do Programa do Aleixo, que é um homem invisível. Só que o Ribeiro ainda tem alguma piada. O VPV soa apenas amargo. Há uma fronteira entre o niilismo e a estupidez, mas aparentemente, isto escapou tanto ao sujeiro como a quem lhe serve de microfone. Eu percebo que a TV precise das suas vozinhas fascistas… mas o que é demais, sempre ouvi dizer, é erro.
Por sorte, a Manuela Moura Guedes nunca se limitou a ser a jornalista que faz perguntas. Ela sempre teve um prazer sádico de discutir com os entrevistados (Como Miguel Sousa Tavares certamente corrobora.), e às vezes até se demonstra mais razoável que eles.
Houve um tempo em que, na última página do Público, lá passava os olhos pela crónica de VPV, mas depois, comecei a perceber que a escrita, ou melhor, o conteúdo, rimavam com o ar do cronista, e achei melhor parar, correndo o risco de ter uma crise de vómitos semanal.
Agora, só para ter a certeza de que a voz do apocalipse chega mesmo às massas, passaram-no para a televisão. Depois queixam-se que o país está como está. E pior, acham estranho que a nossa política regrida no sentido da ditadura… Pudera.
É por estas e por outras que, garantidamente, não assistirei ao jornal das oito na TVI.

A outra questão vai direitinha para as séries. Se disse que gosto de “Once and Again” (Que já é velhinho, tenho ideia que os meus pais viam…), também me deparo com algumas surpresas menos boas na FoxLife.
É o caso de uma série chamada “The Huntress”, em português, “As Caça-Recompensas”, que passa algures às duas ou três da manhã na FoxLife. É mais uma série pós-CSI, onde a investigação é o foco. Neste caso não é bem criminal, mas é quase.
Mas estão a ver aquelas séries que estão tão mal filmadas que, por mais que tenham alguns pontos positivos, ninguém repara? É isso tudo.
“The Huntress” é a história de duas caça-recompensas, mãe e filha, que prosseguem o trabalho do falecido patriarca, e caçam pessoal que tem dívidas. Até aqui tudo bem. O problema reside na predicabilidade e no toque amador que começa no argumento e termina na realização. Obviamente, a interpretação de Anette O´Toole fica perdida no meio disto tudo e, por sinal, também não é propriamente o melhor que esta actriz terá para oferecer.

Com estas e outras, qualquer dia divorcio-me de novo da televisão.

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Immortel de Enki Bilal

ANOS-ESCURIDÃO


Inserido no ciclo do Fantasporto 2009 “Cinema e Arquitectura”, que aproveito para elogiar, é exibido “Immortal” de Enki Bilal. Este é daqueles filmes cuja premissa tem quase tudo para correr muito mal, de todo, não corre.
Enki Bilal, designer e desenhador de BD, já trouxera anteriormente ao Fantasporto “Tykho Room” e “Bunker Palace Hotel”, onde experienciara aquilo que traz definitivamente em “Immortel”: a convivência entre personagens animados e personagens reais, neste caso ressalta obviamente o nome de Charlotte Rampling.
A perspectiva futurista que aqui se apresenta não é inédita em cinema nem na literatura. Já em vários casos nos mostraram um futuro assustador e decadente, dos quais destaco, por motivos óbvios, “Blade Runner” de Ridley Scott. Aliás, “Blade Runner” não deixa de ser uma referência clara em “Immortel”, em termos de FX, e da própria proposição arquitectónica que se nos apresenta de New York.

A história também assume a ideia de que no futuro, humanos partilharão o mundo com mutantes e espécies afins. Neste caso, Bilal consegue relacionar isso com aquelas teorias da conspiração que por vezes soam um tanto paranóicos, com política e ainda com a mitologia do antigo Egipto.
Tudo começa quando Horus é condenado por Anúbis e Bastet à morte (Contrapondo a sua pressuposta imortalidade.), sendo-lhe dados sete dias (O tempo do coração de um deus bater.) para viver no mundo que ajudou a criar, antes de lhe ser retirada a vida. Um pequeno reparo neste aspecto: os diálogos entre os deuses são inteligentemente falados em egípcio, portanto, Anúbis nunca seria Anúbis, mas Anupu, visto que Anúbis é a tradução grega do nome deste deus, mas tudo bem.
Horus abandona então a pirâmide flutuante que surgira sobre New York e infiltra-se, sob a forma de falcão, entre os humanos. A cidade encontra-se monopolizada pela Eugenics, uma empresa de fármacos ligada ao governo em vigor, ambos tentando abafar o homem que tentou colocar termo nesse monopólio, Nikorov, de momento preso. É desta prisão que ele escapa acidentalmente para quase morrer até que é salvo por Horus, que procura um corpo humano para poder fecundar uma certa rapariga, de momento a ser analisada por Elma Turner(Charlotte Rampling).

Parece-me que “Immortel” realmente surpreende precisamente porque surpreende: consegue fugir de todo o tipo de clichés, e contornar na pefeição as dificuldades de colocar uma história deste empreendimento em animação. Além disso, consegue criar com a mesma facilidade momentos de franco bom humor e momentos de uma certa intensidade emocional e imagética. Nesta área, “Immortel” propõe uma linha estética, e defende-a, mantendo-a coerente.


Em conclusão, as minhas icursões no Fantas começam bem.
Recomendo também uma passagem pela Tenda Cidade do Cinema, onde, entre outras coisas, podem levar imensos rebuçados do espaço do JN.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

a passagem de ano do aleixo


e ainda




presságios de alfama

névoa e partida
vaivém das vagas
luzes no mar
vela perdida
vozes presagas
a vêm tocar

vozes presagas
quanto agoirar

luz esquecida
como te apagas
a tremular
ó louca vida,
como naufragas
a navegar

vozes presagas
quanto agoirar

morre a gaivota
doente
e à tua rota
vai rente
num triste trino
a chama
o teu destino,
alfama

morte que sem olhos fita
pelo mar vem a desdita
pó de saudades,
cinzas sem lume
escuridão
e tempestades
noite e negrume
no coração

noite e negrume
no coração

às cegas vou
e não sei
quem violou
esta lei
quem poluiu
o meu linho
quem me impediu
o caminho

meu destino já marcado
erros meus que são meu fado


VASCO GRAÇA MOURA
para o álbum "Canto" de MÍSIA

Isabel de Sá: Restos de Infantas

O SUSTO DA INFÂNCIA

Olhando para o percurso de Isabel de Sá, iniciado à precisamente 30 anos, é possível percebermos que estamos perante um dos mais coesos e maduros projectos poeticos no panorama português.
A par com Luís Miguel Nava, Isabel de Sá foi o nome da poesia dos anos 80, fase mais activa do seu percurso literário. Paralelamente, exerce actividade plástica, que muitas vezes, senão sempre, acaba por estar unida à sua pordução poética. E se é possível reconhecer alguns ciclos nessa poesia, certamente ela tem elementos que a ligam e tornam unitária. Elementos como a infância, a beleza (Ou Beleza.), a linguagem do corpo ligada à dos sentimentos, e uma clareza no discurso que resulta como clarividência, e, acima de tudo, a extrema humanidade dos conteúdos. A nível de ciclos, podemos falar de um primeiro, de extrema densidade expressiva, desde "Esquizo Frenia" (1979). Outra fase mais madura e analítica principia mais ou menos em "Em Nome do Corpo" (1986). A partir de "Escrevo Para Desistir" (1988) a relação da escrita com a vida torna-se fulcro, com particular incidência em "O Avesso do Rosto" (1991), que pode ser entendido como uma arte poética. Esta é uma característica com grande peso ainda em "O Duplo Dividido" (1993), o conjunto mais eventualmente (psic)analítico, mas este, como viriam a confirmar "Erosão de Sentimentos" (1997) e "O Brilho da Lama" (1999), é mais fortemente marcado por uma linguagem interior, mais clara, suave e brilhante do que nunca, e também mais emotiva.
Se fôr possível falar de premissas na obra desta escritora, no seu livro de estreia, o folheto "Esquizo Frenia", Isabel de Sá afirma que "sem beleza não se aguenta estar vivo".

Falar de "Restos de Infantas", quarto livro da autora, é necessária e primeiramente falar de beleza. O tema da beleza é por vezes assunto central dos textos presentes neste livro, mas é invariavelmente característica próxima e intrínseca desta escrita. Escrito entre 1979 e 1980, apesar de ter sido publicado pela Ulmeiro apenas em 1984, "Restos de Infantas" é um livro que podemos agrupar com outros dois da bibliografia de Isabel de Sá: "Bonecas Trapos Suspensos" e "Autismo". De certa forma, é possível e provável uma ligação com todos os livros da autora, mas com estes dois em específico, "Restos de Infantas" parece criar um ciclo lógico, ligado essencialmente à infância, ou ao que dela resta, como uma forma de autismo ou de utopia.
Ou de distopia, visto que muitas vezes, essa infância se revela detentora de uma certa crueldade, pois, como já afirmara em "O Festim das Serpentes Novas", "A infância é um susto." Aqui, Isabel de Sá escreve que "Foi um tempo de múltiplos cansaços" (pag.18). Mas, como não podia deixar de ser, a beleza é sempre a máscara ou, porque não, a realidade, destas descrições: "Comiam seu coração pisado de tanta vida" (pag.19). Parece-me que uma das mais assinaláveis características desta poesia é, na sua simplicidade, ser capaz de conferir beleza a tudo. Ao cansaço, a antropofagia, ao susto.
O que também não é exterior a este livro é uma certa influência de uma imagética quase expressionista, densamente metafórica, "cintura tatuada de açucena" (pag.24), "Laços mortos de outras crianças" (pag.22), "Recolhia despojos de muitas infâncias" (pag.23).
Nesse registo, de quem paira "sobre abismos tão estranhamente brancos" (pag.17) esta poesia, feita "no incêndio de inúmeras agonias" (pag.20), traz-nos a infância em visita, mas dá-nos também conta de um crescimento. Assim lemos "Chegou a hora de minha alma não ser ela" (pag.28), e percebemos as implicações do abandono da infância, quando a vida se torna assumidamente um susto, o abandono das visões paradisíacas. Essa segunda parte do livro é mais claramente triste, mais distante, e a interioridade torna-se mais melancólica e menos explosiva. "Ia em longas tardes visitá-la", passado.
A separação ou, se se quiser, o crescimento definitivo, ocorre quando "A cinza de luz é tanta que não posso abandonar-me" (pag.27).
Além dos poemas, é de referência a capa e o separador da autoria de Graça Martins, certamente muito ilustrativos do espírito deste livro.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Wanda Ramos: E Contudo Cantar Sempre

RUPTURA E CATARSE

Já recentemente falei da escritora de origem angolana Wanda Ramos, mas a propósito da sua prosa, em concrecto, do seu segundo romance.
No entanto, na minha odisseia em busca de certas raridades que me interessam, por mais recônditas que possam ser, nem tudo é mau.


De facto, não há muito tempo, deparei-me com a plaquete “E Contudo Cantar Sempre”. E se a estreia da autora se deu em 1970, com “Nas Coxas do Tempo”, esta era uma edição de autor, pelo que a referida plaquete é, para todos os efeitos, a sua estreia nos circuitos comerciais.
O percurso de Wanda Ramos pela poesia é curto. Depois de em 70 ter feito a sua edição de autor, em Fevereiro de 1979 chega “E Contudo Cantar Sempre” nas edições O Oiro do Dia, aqui mesmo na minha cidade, e, um mês depois “Que Rio Vem Forçar a Entrada Desta Casa” surge na colectânea “A Jovem Poesia Portuguesa- volume 1”, na Limiar, também aqui no Porto. Passa pela prosa poética em “Intimidade da Fala”, folheto em três capítulos publicado na &etc em 1983 e termina com “Poe-Mas-Com-Sentidos” (Que repõe sob a forma de capítulo “Nas Coxas do Tempo”.) em 1986 na Ulmeiro. Cinco livros, portanto.


Concrectamente, “E Contudo Cantar Sempre” entende uma série de 11 poemas com um belíssimo desenho de Armando Alves, os quais me aventuro, aqui, a analisar.
Numa primeira leitura, há um conceito que parece patente na escrita de Wanda Ramos: o tempo. É de considerar que, nestes 31 anos que tinha até à publicação deste livro, Wanda atravessou o 25 de Abril e todas as mudanças sociais e culturais que isso implica. Ou seja, é uma época de mudanças e de conturbação que, claramente, atinge a psique das pessoas nela envolvidas. É este um dos tempos de “E Contudo Cantar Sempre”. O outro, é mesmo o tempo cronológico que “mede” a vida de cada um de nós que, para todos os efeitos, é a força que mormente move a poesia.
O primeiro poema chama-se “Autobiografia” (pág.3), e começa, num tom eventualmente irónico por dizer “é verdade que não vem a propósito”. De qualquer maneira prossegue “contar quantas águas em mim pude prender”, ou seja, após duas linhas, já este livro nos introduz a esta viagem no tempo interior da autora, da sua biografia. Mais, diz-nos “e tenho a pele por fim dissecada/ por poemas de pensar urdir solos(…)”, ou seja, depois de contadas as águas que se prenderam, resta a pele dissecada pelas palavras. Daqui, podemos retirar como que uma génese daquilo que é a poesia de Wanda Ramos: uma retrospectiva, o poema em consequência da passagem do tempo sobre os acontecimentos; são relatos que surgem quando a poeta está “ausente hoje de vento” (itálico meu).
Continuando a ler, encontramos “Memória Transitória” (pag.4), o segundo poema, dividido em cinco secções, cada uma começando com “Esqueceste-te”: é o abandono interior, a noção de que a partilha do amor foi olvidada, sofreu a erosão do tempo: “Esqueceste-te de que já uma vez te fizeste comigo”; “Esqueceste-te do quanto premente era sermos.”; “Esqueceste-te de que era ainda há pouco essa cumplicidade.”, “Esqueceste-te de que estou onde nunca terei estado” (itálicos meus).
Mais à frente, em “Contradição” (pag.8), Wanda Ramos diz “Cresce-me do ventre este travo/ do que perdi. Esta memória/ do que não tenho ainda e não sonhei.” Serve esta passagem, simultaneamente, para evidenciar uma vez mais a noção da passagem do tempo sobre o ser humano e as relações humanas, mas também para introduzir outro aspecto que me parece pungente na poesia de Wanda Ramos: a melancolia ou, digamos mesmo, uma certa depressividade.


Um pouco mais atrás, em “Memória Transitória”, é a própria quem diz “se hoje escrevo é na raiva de não ter gestos/ nem mãos.” e também “que é difícil respirar.” Em “Poema Sem Fôlego” (pags.9 e 10), admite mesmo que tem “a inércia do meu lado de combate”.
De facto, ao longo de “E Contudo Cantar Sempre”, há uma enorme tendência para um certo pesar em relação ao passado, que se reflecte no presente. Não esqueçamos, para isto, a teoria do fingimento poético de Fernando Pessoa. Depois de passadas as tormentas surgirá o poema, só quando a pele estiver dissecada, nas palavras de Wanda.
A estrutura do livro demonstra que, provavelmente, a própria autora terá tido percepção deste facto, uma vez que as memórias do passado vão, poema a poema, dando lugar às memórias mais recentes e também a referida “depressão” vai arrastando, até ao poema “Cantar Nunca. E Contudo Cantar Sempre” (pags.12 e 13), onde se nota uma tentativa de fuga a este estado de alma, que depois prossegue em “Entrega” e “Pensamento da Madrugada”, décimo e décimo primeiro poemas, respectivamente.
Se em “Autobiografia”, primeiro poema, Wanda Ramos nos diz brutalmente “defeco primeiro meu eu tão antigo/ e chego ao fim.”, em “Pensamento da Madrugada” (pag.15), o último, diz-nos “Não são ocas as horas nem tresloucadas” É portanto, uma (r)evolução interior que “E Contudo Cantar Sempre” representa.
O poema que em parte dá título ao livro é, aliás, muito claro nesse aspecto, dizendo-nos “Cantar Nunca. E contudo cantar sempre:/ despeitada não nos marcará a solidão”.
A um nível menos (psic)analítico, digo que “E Contudo Cantar Sempre” é um livro que, inserido no seu contexto, não representa nenhum tipo de revolução ou quebra com o que estava a ser feito simultâneamente na poesia, mas é, certamente, um livro a ser lido como testemunho de uma época, claro, mas também como um bom relato de um estado de alma em tudo confuso, preso entre a tristeza e o desejo de fuga, estado que, aliás, já encontrei na prosa de Wanda Ramos.
Alguns poemas ficam certamente a perder em comparação a outros, nomeadamente “Talvez Prefira”, “O Tempo Que Colhíamos” e “Ainda Que Te Espere”, por utilizarem alguns clichés de linguagem desnecessários. Quanto aos restantes, nada a apontar.
Certamente mais para quem está disposto a suar por encontrar livros cujo formato condena ao esquecimento nas mais remotas prateleiras de certos alfarrabistas ou livrarias mais antigas, mas certamente é bom, portanto, valerá a pena o esforço.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

a pop portuguesa

tem finalmente um novo brilho. "Eu Fui à Tropa" e "O Meu Zé" ficarão certamente no cancioneiro português para a posteridade


tenho que ver isto

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

António Ramos Rosa: O Aprendiz Secreto

A CONSTRUÇÃO DA METÁFORA

Nascido em Faro, em 1924, António Ramos Rosa é um dos autores mais importantes e de mais merecido reconhecimento entre os poetas portugueses. Estreou-se em 1958, com o folheto “O Grito Claro”, na colecção A Palavra, na qual figurariam ainda Casimiro de Brito, Fiama Hasse Pais Brandão e o primeiro livro de Luiza Neto Jorge. Seguiu-se em 1961 “Viagem Através de Uma Nebulosa” (Que engolbava o primeiro folheto.) e até à actualidade, contando com antologias e colaborações, a obra de Ramos Rosa conta quase cem títulos, dos quais destaco, por motivos meramente pessoais, “As Marcas No Deserto” (1978), “Estou Vivo e Escrevo Sol” (1966), “Voz Inicial” (1960), “Figura: Fragmentos” (1980), “A Rosa Esquerda” (1991) ou “O Incêndio dos Aspectos” (1980).


Acabo agora de ler o volume de prosas poéticas “O Aprendiz Secreto”, publicado pela Quasi em 2001. Tendo em conta que ao longo destes poemas António Ramos Rosa analisa o construtor e a construção, é para mim, enquanto leitor e enquanto estudante de Arquitectura, duplamente interessante.
De uma forma mais precisa: este é um conjunto de cerca de 57 poemas em prosa que relatam o percurso psicológico e físico de um construtor que constroi a sua casa. No entanto, e essa será a força maior do livro, estas são ideias a não levar à letra, são, essencialmente, metáforas: quem entende o construtor a constuir a sua casa, pode entender a pessoa que se constroi a si mesma, o poeta que escreve, e muitas outras relações entre um individuo que constroi alguma coisa. Ou então, podemos recuperar uma ideia que surge em “A Construção do Corpo” de 1969, de que o próprio corpo é uma construção.
Logo num dos primeiros poemas, lemos “Tudo será construído no silêncio, pela força do silêncio, mas o pilar mais forte da construção será uma palavra. Tão viva e densa como o silêncio e que, nascida do silêncio, ao silêncio conduzirá.” (pag.11): estamos, pois, perante, a génese da construção, quer do construtor, quer do próprio poeta ao iniciar o seu relato.

Assim inicia: primeiro as dúvidas- “A vivacidade de uma festa no deserto poderá ainda actualizar a festa de outrora, a festa do princípio de todos os princípios?” (pag.18), depois, o início da construção, e, por fim, o seu usofruto, ou, pelo menos, a sua conclusão. Acrescento que esta ideia da “festa no deserto” foi anteriormente explorada pelo autor em “As Marcas no Deserto”, exactamente no capítulo intitulado “Para o Incêndio da Festa”.
No entanto, o que é de notar neste livro é que mais do que nunca, a poesia de Ramos Rosa se nos apresenta analítica e até mesmo filosófica.
É neste registo que analisa as relações entre o corpo e a psique que constroem e o que é construido.
Característico da poesia deste autor é também a repetição de determinadas palavras, e a capacidade que ele encontra de lhes dar variados sentidos (O “deserto” acima citado não corresponde, de todo, ao “deserto” de “As Marcas no Deserto”, por exemplo.), o que aqui acontece a um nível intratextual, como também a um nível intertextual, indo buscar palavras como “branco”, “solidão” ou “silêncio” que podemos considerar omnipresentes ao longo da sua obra. Estas são palavras esseciais para uma compreensão da poesia de Ramos Rosa, mas, como disse, vão assumindo vários sentidos. No caso destas palavras, elas aqui convergem, na edificação de algo onde nada existe, o “deserto” “branco” onde está o construtor, que dentro da “solidão” e do “silêncio” constroi alguma coisa.
Se é verdade que a poesia de António Ramos Rosa se vai organizando mais ou menos por alguns ciclos, “O Aprendiz Secreto” marca certamente um novo ciclo, menos num registo de captação de emoções ou momentos isolados no tempo, como acontece, por exemplo, em “Viagem Através de Uma Nebulosa” ou “Boca Incompleta”; e mais num estilo que roça o romance, primeiro pela utilização do poema em prosa (Já presente em obras prévias.) e depois pelo estilo mais repetitivo ou prosaico que todos os poemas apresentam, como quem conta uma história, o que, de facto, parece acontecer.
É portanto, um livro insólito e único na vasta bibliografia do poeta, um pouco como acontece em “Pátria Soberana”, onde Ramos Rosa fala de Portugal, sendo “O Aprendiz Secreto”, na minha opinião, mais interessante, invulgar e bem conseguido.
Como aspecto negativo, posso apenas dizer que os poemas são aqui em grande número e, em alguns casos, repetem demasiado a mesma ideia, a mesma “fase” da construcção, havendo cerca de meia dúzia que poderiam ser retirados sem que o livro ficasse a perder.

"poema do funcionário cansado"

era o nome de um poema de António Ramos Rosa, do seu primeiro folheto, "O Grito Claro", folheto esse que conta já 51 aninhos.
Não sou um funcionário cansado, sou um universitário cansado.
Estou supostamente de férias e não tenho vontade de voltar. Acho que a partir do momento em que tirar um 14 faz com que sejamos alunos bestiais algo está errado.
Além disso acabo de fazer uma frequência de Arquitectura Contemporânea em que gastei o meu tempo a fazer uma caligrafia legível para variar... uma seca.
Then again... para quê queixar-me?

(daqui a uns dias devo eliminar esta corja)

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

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oh louca vida como naufragas?
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(vasco graça moura)


terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

dá para pedir demissão do cansaço?

domingo, 8 de fevereiro de 2009

palavra que gosto disto

se esta letra não é brutal... não sei...

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

vá lá, confesso

ás vezes ainda me dá gosto ouvir disto

e disto

afinal, parece que a fase Cradle of Filth deixou pequenas marcas...

domingo, 1 de fevereiro de 2009

e o herberto helder prossegue na sua paranóia capitalista, ao lado dos malucos da assírio e alvim. não tarda nada publicam o corpo do homem às postas. Imagine-se:
"depois da toléria da edição de "A Faca Não Corta o Fogo" e da obsoleta edição de "Ofício Cantante" que se limita a acrescentar o mais recente livro à anterior edição de poesia completa do autor, a Assírio e Alvim apresenta bifes de Herberto Helder, numa tiragem limitada de 30 exemplares. uma vez mais o autor não vai permitir 2ª edição, mas desta vez, não há garantias de uma obra completa que acrescente esta novidade."

por favor... que merda vem a ser esta???

como diz um professor meu, e cheio de razão
"_Estou farto de semi-deuses"
puta que pariu com eles