domingo, 1 de março de 2009

sobre o único assunto universal



"Ricardo Asse mexeu-se na cadeira- "A morte, nossa vizinha, nossa irmã, companheira do nosso corpo em sua sombra, parte integrante da nossa alma, único fantasma grandioso da nossa vida, único tema da nossa obra! Eu, como tu, aos vinte anos estava esclarecido. O meu primeiro poema foi sobre a morte, o segundo foi sobre a morte, o vigésimo terceiro foi sobre a morte, o centésimo, o tricentésimo, foram todos sobre essa chamada permanente, essa toalha alva que desde sempre nos espera sob a forma do nosso próprio sopro. A minha intuição sobre a importância da morte, em todos os gestos da minha vida, sempre foi tão poderosa que nunca permitiu que nenhum outro assunto entrasse nas linhas da minha escrita. E assim atravessei cinquenta anos de fertilidade criativa, discorrendo sobre o único tema universal que existe. A morte... Julgas, porém, que foi pacífico?..." Durante um minuto, Ricardo Asse empalideceu. Mas regressou.
"Ah, não foi pacífico, não!"





LÍDIA JORGE
O Jardim Sem Limites
1995- dom quixote
imagem: HELENA ALMEIDA
Pintura Habitada

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