Há muitas coisas que eu não percebo, e há outras que cada vez percebo menos. A questão das associações de pais deste nosso jardim à beira mar plantado é uma delas. Há uns tempos, a CONFAP (confederação de associações de pais) veio rondar a mui iluminada ministra Maria de Lurdes Rodrigues com ideias de um prolongamento do tempo de aulas até às 7 da tarde. Aliás, aulas não, só de permanência das criancinhas na escola. Disseram que os professores poderiam, por exemplo, passar uns vídeos.
Mas, como eu dizia, se há coisas que não percebo, há outras que cada vez percebo menos. Neste caso, cada vez percebo menos porquê que esta gente teve filhos. Partamos do princípio que a iluminada da educação segue estes delírios e promulga esse prolongamento. Os putos chegam a casa depois das sete, jantam, vêm um pouco de TV, deitam-se e no dia seguinte lá vão de novo das nove às sete da tarde, so it ends so it begins. Visto por outro prisma, os pais nem precisam de se preocupar com eles, nem de estar muito com eles. Vão apanhá-los àquela hora, dão-lhes de comer, mandam-nos lavar os dentes, e cama que o mal deles é sono.
Nunca na vida eu quis ter filhos, precisamente porque me reconheço incapaz de dedicar a uma criança o tempo que ela necessitaria, acrescido ao facto de não ter grande paciência para birras e berros. Mas, aparentemente, nem todos têm a mesma auto-consciência que eu tenho. E então, seguem esta lógica: fodem, engravidam, dão à luz, e a seguir atiram com eles para a escola o máximo de tempo possível para não terem que os aturar, e assunto resolvido. Pergunto eu: não seria mais simples não os terem tido? Era menos despesa, e de certeza menos encargos para terceiros, que neste caso são os professores.
Como se não bastasse a palermice de quererm ver-se livres dos filhos que, em princípio, ninguém os obrigou a ter, ainda atiram essa encrenca para as costas dos professores. E isto acarreta, parece-me, dois problemas essenciais: primeiro, o curso destes professores é para ensinar, para dar aulas, não para serem amas-secas pagas pelo estado para passarem uns vídeos e entreterem as criancinhas; e segundo, esses professores são antes disso pessoas que podem também ter tido essa pouco frequente ideia de ter filhos. E se calhar, até querem passar algum tempo com eles. Mas não. De acordo com os desejos da confap, os professores não têm nada que passar tempo com os seus filhos, porque a prioridade é aturarem os filhos dos outros que não os estão para aturar.
Isto é normal? Eu não acho. Mas se alguém achar, por favor, esclareça-me.
Entrei este ano para o Ensino Superior, o que quer dizer que quando andei no básico, a escola era até às quatro da tarde, e depois disso, os meus pais arranjavam como tomar conta de mim. E sobrevivi sem prolongamentos até às 5 e meia, e muito menos sem prolongamentos até às 7.
Ainda bem que isto só surgiu agora que o governo quer ser reeleito, porque senão, Maria de Lurdes Rodrigues teria tirado mais diversão disto que dum charro.
Mas, à minha adorada confap, deixo uma sugestão: porquê pedir até às sete? Peçam já um serviço 24-7! Estão a ser modestos para quê?
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