Aproveitando a muito feliz iniciativa da Fundação de Serralves de expôr a obra do realizador português Manoel de Oliveira, aqui ficam as minhas impressões da curta-metragem "A Caça". Realizado em 1963, a ideia original de Oliveira era uam longa-metragem, mas acabou por se ficar pelos 21 minutos. Esta curta poderá ser incluída no mesmo grupo de "Pão" e "Acto de Primavera", onde o cineasta usa cenários naturais e actores amadores.
Parece-me que o caso de "A Caça" terá sido muito bem-sucedido.
É a história de dois rapazes a deambular por um terreno de caça mormente preenchido por pântanos. Após uma cena particularmente boa em que são ameaçados por um caçador que aponta a caçadeira directamente à câmara, discutem o assunto que acaba por parecer paradigmático:
"se os animais fossem bons não se matavam uns aos outros."
Filosofias à parte, os dois rapazes vão brincando pelo imenso terreno, até que um deles fica preso num pântano. O amigo corre à população mais próxima a pedir ajuda.
Os homens que acorrem formam um cordão humano para salvar José, que se afoga. No entanto, quando o cordão se quebra, todos ficam distraídos a discutir quem foi o responsável, deixando o rapaz a afogar-se, seguro apenas por um maneta, que no meio dos outros berros grita
_A mão, a mão, a mão...
tudo enquanto um cão ladra agressiva e ruidosamente para a câmara.
Numa sequência acrescentada por ordem da censura, o rapaz é salvo, mas a concepção original de Mnaoel de Oliveira parece-me mais interessante na medida em que, como quase tudo no filme, acaba por se tornar num paradigma:
Quem, num terreno de caça, não caça, é caçado.
Além desta, é também de referência a ideia de que a salvação de José passa para segundo plano quando se começa a tentar "caçar" um culpado.
A rever.
3 comentários:
Óptima escolha não haja dúvida. Vejo que tens ido às sessões de cinema em Serralves. Fiquei com a imagem do homem maneta a gritar "A mão, a mão..." desde a primeira vez que vi "A caça" numa visita de estudo. Mais uma vez uma óptima escolha. Um abraço João
Queria vos dizer que aquele homem maneta a gritar " a mão, a mão..." foi um grande homem! de nome Manuel de Sá Maganinho, residente na Rua das Matas - vagos, faleceu aos 71 anos.Enquanto existiu foi exemplo para todos, ajudou muita gente e só com uma mao, ensinou-me que vale a pena viver, nada acontece por acaso e que devemos lutar por aquilo que queremos só assim seremos felizes...obrigada avô por tudo o que me ensinas-te e vou-te amar sempre até ao meu ultimo dia de vida. Tenho mtas saudades tuas...Luto pela vida em pró de ti.
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