quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

no barroco, as freiras a escrever até pontuavam... (4)


Tenho amor, sem ter amores
Tenho amor, sem ter amores.

Este mal que não tem cura,
Este bem que me arrebata,
Este rigor que me mata,
Esta entendida loucura
É mal e é bem que me apura;
Se equivocando os rigores
Da fortuna aos desfavores,
É remédio em caso tal
Dar por resposta ao meu mal:
Tenho amor, sem ter amores.

É fogo, é incêndio, é raio,
Este, que em penosa calma,
Sendo do meu peito alma,
De minha vida é desmaio:
É pois em moral ensaio
Da dor padeço os rigores,
Pergunta em tristes clamores
A causa minha aflição,
Respondeu o coração:
Tenho amor, sem ter amores.

Soror Madalena da Glória
Brados do Desengano Contra o Profundo Sono do Esquecimento
imagem: Paul Gauguin, "Nevermore"

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