domingo, 28 de dezembro de 2008

Delta de Vénus de Anais Nin

Depois do pequeno trauma que tive ao ler "A Casa do Incesto", decidi finalmente aventurar-me a ler outro livro de Anais Nin. Neste caso, os contos eróticos de "Delta de Vénus".


Aproveito para realçar a falta de interesse das editoras por reeditar este tipo de livros. A edição que econtrei era dos anos 80, da Bertrand, traduzido nem mais nem menos do que por Luiza Neto Jorge, e com uma belíssima capa de Gustav Klimt.
Aparte disto, sobre o livro propriamente dito, digo que gostei. Não foi, de todo, uma leitura enfadonha. Mas, para que a génese do livro seja entendida, em muito ajuda a introdução, com algumas passagens retiradas do famoso diário da autora, onde explica que estes contos teriam sido, originalmente, escritos para um coleccionador anónimo, que lhos encomendara, bem como a Henry Miller. Trabalho para sobrevivência, portanto. Mas o resultado é bom.
Se, numa certa e polémica crítica a "Casa do Incesto", me queixei que havia um excesso de poesia, em "Delta de Vénus", a poesia surge na sua conta, peso e medida. Portanto, a leitura não é dificultada por um abuso repetitivo de metáforas. Não são, como pretendia o coleccionador que os financiou, relatos mecânicos e pornográficos. Aliás, pornografia é um adjectivo que não pode ser empregue aqui. Ainda que, nas palavras de Anaïs, que subscrevo, a linguagem do sexo ainda não foi inventada, aqui, a perspectiva é claramente feminina, como era aliás, objectivo da autora. Há uma sensibilidade, não há actos cometidos pelo próprio acto do prazer, tudo tem um sentido e um sentimento.


Aparte disso, nota-se apenas uma certa "timidez" em avançar para um registo mais extenso, ou seja, o romance, uma vez que personagens como Elena, Pierre ou Bijou surgem em vários contos, estando, portanto, todos ligados.
Realço o primeiro conto, "O Aventureiro Hungaro", como o menos conseguido. O ambiente e o tipo de situação são, sem dúvida, dignos de uma cultura de salão do rococó onde, para celebrar a vida, todos querem ter sífilis. É o conto mais "leviano", ainda que consiga alguns picos de interesse na medida em que a perversão do dito aventureiro atravessa situações realmente originais.
No resto dos contos, a tonalidade é outra, mais facilmente associável à figura e à escrita de Anaïs Nin. Saliento "Elena" ou "O Basco" como os contos onde a originalidade está mais nivelada com a qualidade. Serão os melhores.
E este é definitivamente um livro a guardar e recordar.

3 comentários:

Jenifer disse...

adorei essa música de plano de fundo!

Diário de Jéssykinha disse...

Estou louca para ler esse livro,mas não consigo encontrar.
Adorei seu Blog,parabéns.
Bjs Jéssykinha

Nuno Teixeira disse...

Estou, justamente, a meio desse livro. É uma belíssima obra que veio expandir o vocabulário sexual e abater tabus e muralhas preconceituosas. A propósito, boa publicação :)